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Denise Britto - Publicado em 26-09-2024 13:00
Estudantes indígenas da UFSCar (de)marcam presença em evento em Brasília
Grupo de 39 pessoas da UFSCar estiveram no ENEI 2024 (Foto: Acervo pessoal)
Grupo de 39 pessoas da UFSCar estiveram no ENEI 2024 (Foto: Acervo pessoal)
Nos dias 16 a 19 de setembro aconteceu na Universidade de Brasília (UnB) o XI Encontro Nacional dos Estudantes Indígenas (ENEI), que contou com a presença de uma delegação da UFSCar, incluindo estudantes de graduação e pós-graduação indígenas. A participação partiu de um pedido do coletivo Centro de Culturas Indígenas (CCI) da Universidade, que pleiteou e organizou a viagem. Dos 30 trabalhos premiados no ENEI 2024, nove foram da UFSCar. Além disso, o evento contou com uma cerimônia de homenagem póstuma ao estudante egresso do curso de Medicina da UFSCar, Ornaldo Sena, do povo Huni Kuin.

A delegação da UFSCar foi formada por 33 estudantes de graduação dos quatro campi, três estudantes de pós-graduação do Campus São Carlos, além da Thaís Palomino, pedagoga da Pró-Reitoria de Graduação (ProGrad), e dos docentes Willian Fernandes Luna, do Departamento de Medicina (DMed), e Iraí Maria de Campos Teixeira, do Departamento de Metodologia de Ensino (DME).

"O I ENEI nasceu na UFSCar, a partir da mobilização do Centro de Culturas Indígenas, coletivo que agrega os estudantes indígenas da Universidade. Hoje temos coletivos dos estudantes indígenas nos quatro campi. O CCI, em diálogo com a Instituição, vem construindo a ida para o XI ENEI desde o ano de 2023. Essa articulação e o apoio da UFSCar permitiram que estivéssemos presentes com uma das maiores delegações da Universidade que participou dos ENEIs", destaca Thaís Palomino. A UFSCar tem atualmente mais de 300 estudantes indígenas nos quatro campi. Em São Carlos, são mais de 200 estudantes de povos indígenas. 

Este ano, o ENEI teve como tema os "20 anos demarcando as universidades: luta e resistência efetivando a permanência", se consolidando como um marco que celebra duas décadas de intensa luta, resistência e concretização da permanência de estudantes indígenas nas universidades brasileiras. O encontro reuniu representantes de diferentes povos de todo o País para reflexões sobre a realidade da Educação Superior Indígena, dando continuidade às discussões iniciadas na última década, de 2013 a 2023. Para isso a programação contou com apresentação de trabalhos - distribuídos em seis Grupos de Trabalho -, conferências e oficinas. Os temas das atividades passaram por questões como saúde da mulher, justiça de transição, perspectivas de gênero, experiências acadêmicas, entre outros. Confira os detalhes neste link.

"Eu não tinha tamanha consciência da dimensão do que o evento é. Eu nunca tinha participado", contou Alessandro Inhape, da etnia Omágua Kambeba, localizada em São Paulo de Olivença (AM), da região do Alto Rio Solimões - Terra indígena Tuyuka Tawa II. "O evento foi muito legal porque falou dos 20 anos da nossa permanência na universidade, aldeando, demarcando os territórios para que nós possamos continuar na busca de melhorias para os cursos de graduação nos quais cada parente cursa. [?] Foi um evento de muita troca, aprendizado... Tive só coisas positivas e o evento proporcionou momentos marcantes na minha trajetória acadêmica como futuro profissional na área de Tradução e Interpretação. Também apresentei trabalho na minha área de pesquisa", contou o graduando do curso de Tradução e Interpretação em Língua Brasileira de Sinais/Língua Portuguesa (TILSP). "O evento nos proporcionou também o diálogo. E uma das coisas bem importantes foi que eu conheci novos parentes, a realidade de parentes de outras regiões, fiz amizade, reencontrei amigos de muito tempo, inclusive do Amazonas, que estão espalhados em outras universidades do País. Foi muito feliz e gratificante o evento, fora o aprendizado e a bagagem".

"A minha participação no XI ENEI foi uma experiência extremamente rica e importante em minha vida. Fui delegado representando o nosso coletivo da UFSCar, o que me permitiu estar à frente de debates e discussões fundamentais para a nossa comunidade acadêmica indígena", relatou Joelson Antonio de Jesus, da etnia Pankararu, do município de Tacaratu (PE). Ele cursa licenciatura em Educação Especial na UFSCar. "Representar a UFSCar foi um desafio enriquecedor, tanto no âmbito pessoal quanto no profissional. Estar nessa posição de liderança me proporcionou um fortalecimento significativo, não apenas como estudante, mas também como alguém que deseja contribuir para o futuro qualificado do movimento estudantil indígena. A responsabilidade de representar a Universidade e nossas demandas me deu uma visão mais ampla das questões estruturais que ainda precisamos enfrentar para garantir a nossa presença e permanência no espaço acadêmico".

"O evento foi muito potencializador pra gente reafirmar as questões de permanência e políticas públicas nas universidades. Eu acredito que o coletivo de todos os povos indígenas, principalmente dos estudos indígenas no Ensino Superior, anseia as mesmas questões em todo o território nacional", complementou a psicóloga e Residente I Multiprofissional em Saúde Mental da UFSCar Dayane Teixeira Almeida Boni, do Povo Tariano (AM), que fez parte da Comissão Organizadora do I ENEI e, neste ano, também vivenciou o evento em Brasília.

A professora Iraí Teixeira, que também integrou o grupo, concorda: "Foi um evento maravilhoso, marcado por muitos debates importantes, muitas demandas foram apresentadas; muitas reivindicações foram feitas, inclusive para a própria organização do evento, o que mostra a autonomia e consciência crítica de todos esses estudantes, inclusive no que tange às suas próprias organizações, suas próprias lutas, seus próprios espaços de solicitação por direitos", destacou a docente, que também atua como Diretora do Colégio de Aplicação e Coordenadora do Projeto Maternar Indígena da Universidade, que integra o Observatório Mulheres, e do Programa de Extensão Mapeamento de Práticas de Educação Popular em Saúde (MAPEPS), todos da UFSCar. O grupo de estudantes apresentou a proposta de reproduzir a exposição apresentada no ENEI em espaços dos quatro campi da UFSCar e o Centro de Culturas Indígenas está articulando estas exposições para que ocorram em eventos agendados para os próximos meses na Universidade.

Homenagem
Durante o ENEI 2024, a delegação da UFSCar prestou uma emocionante homenagem ao saudoso parente Ornaldo Sena, do povo Huni Kuin. Formado em Medicina pela UFSCar, Ornaldo foi uma figura importante nos movimentos do Centro de Culturas Indígenas e um dos pioneiros na concepção do Encontro Nacional dos Estudantes Indígenas. Em reconhecimento ao seu legado, foi criado o "Prêmio Ornaldo Sena" de trabalhos acadêmicos, perpetuando sua contribuição para a educação e cultura indígenas. O relato é do próprio Centro de Culturas Indígenas (CCI) da UFSCar, em seu perfil do Instagram (@cciufscar). Dos 30 trabalhos agraciados pelo "Prêmio Ornaldo Sena", nove foram da UFSCar.

Durante o período do evento, a delegação da UFSCar também pôde visitar lugares importantes de Brasília, como a Câmara dos Deputados e o Senado. Dentro da UnB o grupo visitou o Alojamento - chamado também de Casa do Estudante - e a Maloca, espaço voltado para o acolhimento de estudantes de diversas etnias.

A participação dos estudantes contou com apoio de diversos setores da UFSCar: Reitoria, Fundação de Apoio Institucional (FAI), ProGrad e Pró-Reitoria da Assuntos Comunitários de Estudantis (ProACE), além outros setores e pessoas que apoiaram os estudantes com o empréstimo de tendas e colchonetes para a permanência na UnB.

O próximo ENEI será sediado em Manaus (AM). Acesse mais informações sobre a edição deste ano no site https://www.eneindigena.net.