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Antônio Rodrigues da Silva Neto (ICC) - Publicado em 25-02-2025 14:25
Pesquisa da UFSCar estuda fungo extremófilo como modelo de vida em Marte
(Imagem: Ilustração com imagem dos autores do artigo.)
(Imagem: Ilustração com imagem dos autores do artigo.)

Cientistas da UFSCar estão investigando uma espécie de fungo que pode servir como modelo para compreender a possibilidade de existência de vida em ambientes extraterrestres. O estudo, conduzido por Alef dos Santos durante seu doutorado no Programa de Pós-Graduação em Química (PPGQ) da UFSCar, analisou o material genético do fungo Rhinocladiella similis, microrganismo unicelular que integra grupo conhecido como fungos negros, devido à pigmentação escura. A pesquisa permitiu a identificação de genes e algumas características que podem explicar sua sobrevivência em condições adversas.

Os fungos extremófilos são organismos notáveis por sua capacidade de sobreviver em ambientes extremos, como no deserto, regiões polares, e até mesmo em reatores nucleares. Eles podem ser encontrados em locais com altos níveis de radiação, temperaturas extremas e baixa disponibilidade de água. Por isso, são modelos importantes na exploração do sistema solar em busca de vida extraterrestre microbiana, um dos principais objetivos de várias agências espaciais.

"O fungo investigado na pesquisa foi isolado de um frasco de âmbar contendo uma solução de ácido clorídrico (HCl), armazenado no nosso laboratório no Departamento de Química da UFSCar, o Laboratório de Bioquímica Micromolecular de Microrganismos. Foi nesse momento que percebi o potencial desse microrganismo para ser estudado. Imagine encontrar um fungo sobrevivendo em uma solução de ácido clorídrico - é algo extremamente curioso!", conta Santos. Na pesquisa, os cientistas identificaram genes que conferem ao fungo estudado resistência a condições extremas semelhantes às de Marte, como alta exposição à radiação ultravioleta e baixa disponibilidade de água. Os resultados reforçam o potencial dos extremófilos como chaves para entender os limites da vida e suas possíveis manifestações em outros planetas.

Para testar sua resistência, os pesquisadores cultivaram o fungo em um substrato que simula o regolito marciano - a camada de poeira e rochas que recobre a superfície de Marte. Os resultados surpreenderam: Rhinocladiella similis não apenas sobreviveu, mas também produziu metabólitos únicos, como oxilipinas e sideróforos, que podem funcionar como bioassinaturas - sinais químicos que indicam a possível presença de vida.

Além de suas implicações para a astrobiologia, a pesquisa amplia nossa compreensão sobre os limites da vida na Terra. "Estudar extremófilos nos ajuda a enxergar novas possibilidades de onde e como a vida pode existir no Universo", destaca Santos. O estudo, realizado no grupo liderado pelo professor Edson Rodrigues Filho, do Departamento de Química (DQ), com parceria do grupo de pesquisa do professor Alexandre Soares Rosado, da King Abdullah University of Science and Technolgy (KAUST), na Arábia Saudita, foi publicado no periódico JACS Au, e pode ser conferido através de link para a revista [https://pubs.acs.org/doi/10.1021/jacsau.4c00869].