Notícia

Mariana Pezzo - Publicado em 01-04-2022 15:50
UFSCar articula esforços para acolhimento de cientistas em risco
Coordenação de grupo de trabalho está na UFSCar, na Cátedra Sérgio Vieira de Mello (Pixabay)
Coordenação de grupo de trabalho está na UFSCar, na Cátedra Sérgio Vieira de Mello (Pixabay)

A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) divulgou nos últimos dias a Iniciativa Pesquisadores em Risco, destinada a apoiar instituições do estado de São Paulo no acolhimento de pesquisadores em risco dos países envolvidos na guerra da Ucrânia e demais países afetados similarmente. O edital, com previsão de distribuição de até R$ 20 milhões, concederá bolsas nos moldes de Bolsa de Pós-Doutorado ou de Auxílio Pesquisador Visitante (PV), e propostas submetidas por pesquisadores com auxílio vigente na Fapesp serão tratadas como solicitações complementares nesses projetos.

Na UFSCar, movimento relacionado à estruturação do edital começou com Svetlana Ruseishvilli, docente no Departamento de Sociologia (DS), que tem origem russa e foi educada na Ucrânia. Ela conta que, com a deflagração da guerra, rapidamente identificou a preocupação de colegas ucranianos e, também, russos e belarussos contrários à guerra, com a possibilidade de deslocamento para outros países. De outro lado, detectou como os primeiros programas criados, na Europa e Estados Unidos, em geral não atentavam à dimensão de perseguição e de criminalização de opositores ao governo russo.

Ruseishvilli procurou a Pró-Reitoria de Pós-Graduação, liderada por Rodrigo Constante Martins, seu colega de departamento, e juntos concluíram que era importante conhecer a demanda para planejar as ações possíveis. A pesquisadora então publicou mensagem em suas redes sociais, em russo, se colocando à disposição para apoiar pesquisadores com interesse em vir para o Brasil, e conta que o retorno que recebeu não deixou dúvidas da relevância da ação. "Recebi desde mensagens de cientistas que não querem que seu trabalho seja usado para fins bélicos, até, claro, de pessoas que têm a sua vida em risco. Eu já tinha a certeza da disposição institucional em facilitar o acolhimento, mas percebi que precisávamos também pensar em como equacionar a questão de manutenção dessas pessoas, em termos de recursos financeiros", conta Ruseishvilli.

A pesquisadora procurou outro colega, agora do Programa de Pòs-Graduação em Sociologia (PPGS), Oswaldo Truzzi, que integra a Coordenação de Área - Ciências Humanas e Sociais I na Fapesp. Daí em diante, a rapidez na construção da proposta foi marcante. "O Diretor Científica da Fapesp, Luiz Eugênio Mello, rapidamente respondeu se mostrando sensibilizado e, a partir de reunião comigo e Svetlana, tivemos todo o apoio da estrutura da Fapesp", conta Truzzi. Após o primeiro encontro, foi agendada reunião também com pessoas interessadas das demais universidades do Estado. "Nesta ocasião, contamos também com a presença do professor Edgar Zanotto, do Departamento de Engenharia de Materiais da UFSCar, que deu seu depoimento como pessoa que acolheu pesquisadores em risco após a queda do muro de Berlim e ao longo de sua trajetória, reforçando ainda mais o apoio à iniciativa", acrescenta Ruseishvilli.

A pesquisadora da UFSCar também é uma das coordenadoras, na Universidade, da Cátedra Sérgio Vieira de Mello, vinculada à Agência da ONU para Refugiados (Acnur), e conta que a experiência anterior - também em suas atividades de pesquisa - com a temática das pessoas em situação de refúgio foi fundamental na concepção da iniciativa. Agora, em cada uma das instituições, há um ponto focal que recebe os currículos de cientistas interessados e busca localizar grupos de pesquisa locais que possam acolhê-los. Na UFSCar, este ponto é a Cátedra, que pode ser acionada pelo e-mail catedrasvm.ufscar@gmail.com. Ruseishvilli também já está estabelecendo o contato com as coordenações dos programas de pós-graduação nas áreas em que foram recebidos currículos.

O edital da Fapesp pode ser conferido no site da agência. As inscrições serão recebidas até 30 de agosto ou o esgotamento dos recursos, e a previsão é de análise rápida, inclusive em intervalo inferior a uma semana dependendo do tipo de encaminhamento.

Na UFSCar, além dessa movimentação inicial, a Administração Superior criou um grupo de trabalho para construção de uma política de acolhimento de cientistas em situação de risco e deslocamento forçado. O grupo contará com a participação de Ruseishvilli e representantes das pró-reitorias de Pós-Graduação, de Pesquisa, de Gestão de Pessoas e de Assuntos Comunitários e Estudantis, além da Secretaria Geral de Relações Internacionais.

"O contato feito com a gestão foi importante para disparar este movimento de debate e criação de uma política que nos permita, daqui para a frente, atuar em situações similares com rapidez e protagonismo institucional. A UFSCar já tem uma tradição na acolhida de estudantes em situação de refúgio, e agora devemos expandir para pesquisadoras e pesquisadores em diferentes estágios da carreira", registra a Reitora da UFSCar, Ana Beatriz de Oliveira. "Há, neste movimento, um compromisso humanitário, sem dúvida, mas a Universidade e o conhecimento também sempre ganham ao acolher a diversidade de experiências e pensamentos e, neste caso, inclusive receber pessoas que já são líderes em suas áreas de atuação", completa.