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Denise Britto - Publicado em 17-05-2022 10:30
Obra de Henri Bergson inédita no Brasil apresenta ideia do tempo
Livro teve tradução da professora Débora Cristina Morato Pinto, da UFSCar (Imagem: Reprodução)
Livro teve tradução da professora Débora Cristina Morato Pinto, da UFSCar (Imagem: Reprodução)

A professora Débora Cristina Morato Pinto, do Departamento de Filosofia (DFil) da UFSCar, traduziu a obra do filósofo Henri Bergson, "A ideia de tempo: Curso no Collège de France (1901-1902)", lançada pela Editora Unesp. O livro traz um potente curso de Henri Bergson proferido no Collège de France durante o ano universitário de 1901-1902. Inédito no Brasil, o texto apresenta um mergulho do autor nos temas do tempo e do conceito, a natureza da "duração" e a do conhecimento conceitual, bem como em suas mútuas imbricações. 

Nascido na França, Henri Bergson (1859-1941) foi filósofo e diplomata. Em 1927, ganhou o Prêmio Nobel de Literatura. "Na aurora do século XX, quando Bergson escrevia sua impactante interpretação da vida, a obra 'A Evolução Criadora' - a um só tempo núcleo por assim dizer metafísico de sua filosofia e fonte de uma notoriedade inesperada (por vezes até incômoda) - ele protagonizou uma história marcante para as relações entre a filosofia de um autor e sua atuação como professor. Os cursos no Collège de France foram um episódio de imenso sucesso de público, atraindo multidões em Paris, e estabelecendo o momento glorioso de Bergson", relata a professora. 

Segundo a tradutora da obra, no período de 1900 a 1914, o filósofo ensinava temas que estão no centro de sua reflexão filosófica, num conjunto de cursos que, debutando sobre o conceito de "causa", abarcam desde "a ideia de tempo" até a relação entre "conceito e intuição", passando pelas noções de vontade, teorias da memória, personalidade, liberdade, evolução, entre outras. "Os cursos consistem em material precioso para pesquisadores que se dedicam à filosofia bergsoniana, mas também, e sobretudo, facilitam o acesso geral a um conjunto de meditações filosóficas, cuja expressão oral oferece nova chave de leitura a conceitos e argumentos que perpassam a filosofia da duração, exibindo sua profundidade e sua originalidade", analisa Débora Morato. 

O livro conta com 320 páginas. Segundo a Editora Unesp, diferentemente de outros cursos publicados, somente a segunda metade de "A ideia de tempo" foi datilografada. A primeira parte é uma transcrição de anotações manuscritas de seus alunos. Esse material apresenta, portanto, algumas lacunas, o que aparece claramente na leitura de várias aulas. Apesar disso, não há dúvidas quanto à sua fidelidade ao pensamento bergsoniano. A professora reforça que o desafio de traduzir os cursos reside no fato de que o material consiste em "transcrições de aulas, com lacunas prováveis, mas que mobilizam o estilo e a leveza marcantes no professor Bergson, correlatos diretos do estilo e da linguagem permeada de imagens que marcam a obra escrita". 

Para desempenhar a tarefa de traduzir o curso "A ideia de tempo", a docente se dedicou também à leitura de outros cursos, aprofundando-se em elementos desconhecidos sobre noções muito importantes no pensamento de Bergson. "A tradução buscou, dado tal contexto, pensar em Português soluções fiéis a uma elegância oral, que é diferente da escrita, em particular no caso de um filósofo que tratou sua obra pessoal e original, bem como seu ensino, com uma sofisticação sem pedantismo, cuja raridade justifica a surpresa e o encanto que a leitura dos livros e dos cursos nos provoca", descreve a professora. "Pensei também em reforçar a atualidade dos debates filosóficos que o curso atravessa, como é o caso do uso do termo francês 'esprit', que comporta tanto 'espírito' quanto 'mente' como correspondentes em Português. A tradução por 'mente' visa assinalar a relevância das aulas para um problema tão clássico quanto contemporâneo, o das relações entre o corpo e a consciência ou, se preferirmos, entre o cerebral e o mental. Este é um exemplo entre outros de questões que surgem quando traduzimos, que explicita, além disso, dada sua inevitável diferença com o original, o desafio de exercer algo como uma infidelidade respeitosa", conclui a professora da UFSCar.

A obra "A ideia de tempo: Curso no Collège de France (1901-1902)" pode ser adquirida pelo site da Editora da Unesp.