Notícia
Mariana Pezzo
- Publicado em
05-09-2023
13:05
Dia da Amazônia: Conheça pesquisas da UFSCar na região
Apesar dos mais de três mil quilômetros de distância, são muitos os vínculos entre a UFSCar e a Amazônia. Destaca-se, por exemplo, o número crescente de estudantes indígenas da região que vêm para a UFSCar realizar seus cursos de graduação e, além de aprenderem, transformam a Universidade com seus conhecimentos e modos de vida. Neste 5 de setembro, Dia da Amazônia, selecionamos, dentre estas e diversas outras experiências de interação, algumas pesquisas realizadas por cientistas da UFSCar na Amazônia, em campos que vão desde as Ciências Biológicas até as Exatas e as Ciências Humanas.
A primeira delas reforça justamente a afirmação do quanto há a aprender com os povos indígenas. Pedro Lolli, docente no Departamento de Ciências Sociais, trabalha com povos indígenas na região de São Gabriel da Cachoeira desde 2007, pesquisando os temas de xamanismo e educação. "Esses estudos mostram o quanto o conhecimento indígena é fundamentado em uma relação ecológica com a Floresta. É impressionante a sabedoria que esses povos têm de seu entorno, de animais, plantas, e das relações entre eles", conta o pesquisador. "As pesquisas em Antropologia, e também em Arqueologia, têm mostrado que a presença dos povos indígenas na Amazônia foi e é fundamental para que a Floresta se mantenha em pé. Não haveria Floresta se não houvesse povos indígenas", crava Lolli.
"O que a história nos mostra é que, para a natureza humana, destruir é mais fácil que conservar. Em outras palavras, se não fizermos nada, o esperado é que a Floresta suma. Na minha visão, a única maneira de salvá-la é investir em pesquisas, que vão demonstrar o potencial da biodiversidade, dos produtos naturais, biotecnológicos, realçar os serviços que a Amazônia nos presta", defende Hugo Sarmento, docente no Departamento de Hidrobiologia da UFSCar, que realiza estudos sobre o ciclo de carbono nos ambientes aquáticos da Floresta Amazônica. "Da mesma forma que a Amazônia fixa carbono, ela também emite este e outros gases causadores de efeito estufa, pela decomposição de matéria orgânica em seus rios, lagos, regiões alagadas? Esses processos têm efeito global, e por isso é fundamental compreendê-los", explica o pesquisador. Para a realização desses estudos, os pesquisadores praticamente viveram em uma casa flutuante na região, por cerca de 10 dias ao mês durante dois anos, o que indica quão desafiador pode ser realizar Ciência na Floresta.
Biodiversidade ameaçada
"Existe algo chamado de 'déficit linneano', que é a falta de informação sobre a biodiversidade resultante do fato de estarmos perdendo espécies mais rapidamente do que conseguimos identificá-las. Isso é um problema importante para políticas de conservação da biodiversidade, e é especialmente relevante na Amazônia, onde as ameaças são muitas, com o desmatamento, produção agropecuária, a poluição gerada pela atividade de mineração, as queimadas", compartilha George Mattox, docente no Departamento de Biologia (DBio) do Campus Sorocaba da UFSCar. Ele também realiza missões frequentemente na região, praticando a taxonomia de peixes de água doce, que é justamente o esforço de identificação e catalogação de espécies. Em projeto financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), o grupo estuda um gênero de peixes miniatura que, no início da empreitada, contava com apenas duas espécies conhecidas, e agora já tem mais de 10.
O professor Marcelo Cioffi, do Departamento de Genética e Evolução, também estuda peixes, e atualmente coordena o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia da Biodiversidade e Uso Sustentável de Peixes Neotropicais (INCT-Peixes), que tem financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico (CNPq). Em parceria com o ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), o INCT atua, especificamente na região amazônica, no Parque Nacional de Jurena, em esforços também relacionados à caracterização da biodiversidade e à conservação de espécies, além de combate ao desmatamento, à grilagem e à mineração em terras indígenas. "Precisamos conhecer o máximo possível daquilo que estamos trabalhando para conservar e preservar. Temos espécies endêmicas? Quais as áreas, em nossa unidade, fundamentais para continuidade dos processos ecológicos das principais espécies de peixes da região? Os peixes dos nossos rios estão contaminados por mercúrio e outros metais pesados?", exemplifica Ayslaner Victor G. de Oliveira, gestor do Parque, afirmando como o conhecimento gerado pelo projeto de pesquisa deverá embasar ações de manejo e o planejamento para o futuro do Parque.
Ciência cidadã
Pelo mesmo caminho, pesquisas coordenadas por Frederico Yuri Hanai, docente no Departamento de Ciências Ambientais, deverá apoiar a consolidação de estratégias de turismo sustentável na região amazônica. Iniciado neste ano, o projeto está edificado sobre a interação entre cientistas e comunidades, visando a compreensão de desafios para desenvolvimento do turismo sustentável no Vale do Guaporé, em Rondônia, e no Vale do Jari, no Amapá. "A atividade turística, desde que realizada na perspectiva da sustentabilidade e apoiando-se na educação ambiental, tem potencial para se consolidar em uma eficiente ferramenta de proteção ambiental e de governança para o território amazônico", defende o pesquisador da UFSCar. Financiado pela Iniciativa Amazônia +10 - do Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (Confap) -, dentre os objetivos do projeto estão os de compreender como as comunidades tradicionais fazem a gestão de seus territórios; identificar potencialidades e refletir sobre formas de impulsionar o turismo amazônico sustentável, diversificando assim a base produtiva de comunidades tradicionais ribeirinhas; e apontar novos direcionamentos do turismo, a fim de garantir a preservação do ambiente natural, a inclusão social e econômica das comunidades tradicionais e a justiça ambiental.
"Para além de sua imensa importância em termos da conservação e manutenção da biodiversidade, bem como para o combate às mudanças climáticas, chamo a atenção para a importância da Amazônia brasileira para as pessoas que lá vivem e dela dependem", destaca Renata Evangelista de Oliveira, docente no Departamento de Desenvolvimento Rural, no Campus Araras, que atua junto a agricultores familiares e assentados de reforma agrária. As pesquisas estudam a resiliência da prática na região conhecida como arco do desmatamento, área de fronteira agrícola caracterizada por conflitos. "Nossas pesquisas têm mostrado o importante papel dessas populações rurais para a conservação e a manutenção da agrobiodiversidade, para a restauração florestal, para a produção de alimentos, para a segurança alimentar das comunidades e para a proteção de recursos naturais importantes", compartilha. Os projetos, com financiamento da Fapesp e do Fundo Amazônia, abordam também os impactos da Covid-19 e, diante dela, as adaptações e aprendizados dos grupos estudados.
Conhecimento para a sustentabilidade
E não poderia faltar pesquisa sobre a vegetação amazônica! Karina Martins, também docente no DBio, está realizando coletas na Amazônia para suas pesquisas relativas à castanheira, em projeto que envolve várias instituições do Brasil e do Peru no mapeamento da variação genética da espécie ao longo de toda a sua distribuição geográfica, que é ampla. "O que pouca gente sabe é que quase toda a produção de castanha exportada pelo Brasil tem origem em florestas naturais. O processamento da castanha do Pará - ou do Brasil, como é conhecida fora daqui - é fonte de renda familiar para agroextrativistas, indígenas, além de sua importância para o ecossistema", situa Martins. A pesquisadora conta que o conhecimento desses parâmetros genéticos, bem como da adaptação da espécie às mudanças climáticas, poderá subsidiar a definição de áreas prioritárias para a conservação da espécie, de regiões prioritárias para a coleta de sementes e dos genótipos prioritários para o enriquecimento ambiental.
A produção das nozes conhecidas como castanha do Pará também está no centro de projeto internacional coordenado por Pedro Galetti, do Departamento de Genética e Evolução. Em uma reserva extrativista às margens do Rio Unini, a equipe está realizando pesquisa sobre a fauna de mamíferos em regiões de floresta com castanheiras. Um diferencial é a participação de jovens da comunidade local, que passaram por treinamento e são os responsáveis pela coleta de dados - a partir de armadilhas fotográficas, coleta de amostras para estudos com DNA ambiental e registros visuais dos animais e seus vestígios. O projeto, financiado pela agência USAID, dos Estados Unidos, tem parceria com o serviço florestal dos EUA e, no Brasil, com a Universidade de Brasília (UnB). "Não é à toa que a Humanidade comemora o Dia da Amazônia. Maior floresta tropical do Planeta, ela detém enorme riqueza de plantas e animais, bem como presta serviços que interessam a toda a Humanidade, como o de controle do clima. Muitos estudos ainda precisam ser feitos para que tenhamos protocolos e manejo, de sustentabilidade, que garantam a persistência em longo prazo dessas espécies e desses serviços no nosso planeta", conclui Galetti.
A primeira delas reforça justamente a afirmação do quanto há a aprender com os povos indígenas. Pedro Lolli, docente no Departamento de Ciências Sociais, trabalha com povos indígenas na região de São Gabriel da Cachoeira desde 2007, pesquisando os temas de xamanismo e educação. "Esses estudos mostram o quanto o conhecimento indígena é fundamentado em uma relação ecológica com a Floresta. É impressionante a sabedoria que esses povos têm de seu entorno, de animais, plantas, e das relações entre eles", conta o pesquisador. "As pesquisas em Antropologia, e também em Arqueologia, têm mostrado que a presença dos povos indígenas na Amazônia foi e é fundamental para que a Floresta se mantenha em pé. Não haveria Floresta se não houvesse povos indígenas", crava Lolli.
"O que a história nos mostra é que, para a natureza humana, destruir é mais fácil que conservar. Em outras palavras, se não fizermos nada, o esperado é que a Floresta suma. Na minha visão, a única maneira de salvá-la é investir em pesquisas, que vão demonstrar o potencial da biodiversidade, dos produtos naturais, biotecnológicos, realçar os serviços que a Amazônia nos presta", defende Hugo Sarmento, docente no Departamento de Hidrobiologia da UFSCar, que realiza estudos sobre o ciclo de carbono nos ambientes aquáticos da Floresta Amazônica. "Da mesma forma que a Amazônia fixa carbono, ela também emite este e outros gases causadores de efeito estufa, pela decomposição de matéria orgânica em seus rios, lagos, regiões alagadas? Esses processos têm efeito global, e por isso é fundamental compreendê-los", explica o pesquisador. Para a realização desses estudos, os pesquisadores praticamente viveram em uma casa flutuante na região, por cerca de 10 dias ao mês durante dois anos, o que indica quão desafiador pode ser realizar Ciência na Floresta.
Biodiversidade ameaçada
"Existe algo chamado de 'déficit linneano', que é a falta de informação sobre a biodiversidade resultante do fato de estarmos perdendo espécies mais rapidamente do que conseguimos identificá-las. Isso é um problema importante para políticas de conservação da biodiversidade, e é especialmente relevante na Amazônia, onde as ameaças são muitas, com o desmatamento, produção agropecuária, a poluição gerada pela atividade de mineração, as queimadas", compartilha George Mattox, docente no Departamento de Biologia (DBio) do Campus Sorocaba da UFSCar. Ele também realiza missões frequentemente na região, praticando a taxonomia de peixes de água doce, que é justamente o esforço de identificação e catalogação de espécies. Em projeto financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), o grupo estuda um gênero de peixes miniatura que, no início da empreitada, contava com apenas duas espécies conhecidas, e agora já tem mais de 10.
O professor Marcelo Cioffi, do Departamento de Genética e Evolução, também estuda peixes, e atualmente coordena o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia da Biodiversidade e Uso Sustentável de Peixes Neotropicais (INCT-Peixes), que tem financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico (CNPq). Em parceria com o ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), o INCT atua, especificamente na região amazônica, no Parque Nacional de Jurena, em esforços também relacionados à caracterização da biodiversidade e à conservação de espécies, além de combate ao desmatamento, à grilagem e à mineração em terras indígenas. "Precisamos conhecer o máximo possível daquilo que estamos trabalhando para conservar e preservar. Temos espécies endêmicas? Quais as áreas, em nossa unidade, fundamentais para continuidade dos processos ecológicos das principais espécies de peixes da região? Os peixes dos nossos rios estão contaminados por mercúrio e outros metais pesados?", exemplifica Ayslaner Victor G. de Oliveira, gestor do Parque, afirmando como o conhecimento gerado pelo projeto de pesquisa deverá embasar ações de manejo e o planejamento para o futuro do Parque.
Ciência cidadã
Pelo mesmo caminho, pesquisas coordenadas por Frederico Yuri Hanai, docente no Departamento de Ciências Ambientais, deverá apoiar a consolidação de estratégias de turismo sustentável na região amazônica. Iniciado neste ano, o projeto está edificado sobre a interação entre cientistas e comunidades, visando a compreensão de desafios para desenvolvimento do turismo sustentável no Vale do Guaporé, em Rondônia, e no Vale do Jari, no Amapá. "A atividade turística, desde que realizada na perspectiva da sustentabilidade e apoiando-se na educação ambiental, tem potencial para se consolidar em uma eficiente ferramenta de proteção ambiental e de governança para o território amazônico", defende o pesquisador da UFSCar. Financiado pela Iniciativa Amazônia +10 - do Conselho Nacional das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (Confap) -, dentre os objetivos do projeto estão os de compreender como as comunidades tradicionais fazem a gestão de seus territórios; identificar potencialidades e refletir sobre formas de impulsionar o turismo amazônico sustentável, diversificando assim a base produtiva de comunidades tradicionais ribeirinhas; e apontar novos direcionamentos do turismo, a fim de garantir a preservação do ambiente natural, a inclusão social e econômica das comunidades tradicionais e a justiça ambiental.
"Para além de sua imensa importância em termos da conservação e manutenção da biodiversidade, bem como para o combate às mudanças climáticas, chamo a atenção para a importância da Amazônia brasileira para as pessoas que lá vivem e dela dependem", destaca Renata Evangelista de Oliveira, docente no Departamento de Desenvolvimento Rural, no Campus Araras, que atua junto a agricultores familiares e assentados de reforma agrária. As pesquisas estudam a resiliência da prática na região conhecida como arco do desmatamento, área de fronteira agrícola caracterizada por conflitos. "Nossas pesquisas têm mostrado o importante papel dessas populações rurais para a conservação e a manutenção da agrobiodiversidade, para a restauração florestal, para a produção de alimentos, para a segurança alimentar das comunidades e para a proteção de recursos naturais importantes", compartilha. Os projetos, com financiamento da Fapesp e do Fundo Amazônia, abordam também os impactos da Covid-19 e, diante dela, as adaptações e aprendizados dos grupos estudados.
Conhecimento para a sustentabilidade
E não poderia faltar pesquisa sobre a vegetação amazônica! Karina Martins, também docente no DBio, está realizando coletas na Amazônia para suas pesquisas relativas à castanheira, em projeto que envolve várias instituições do Brasil e do Peru no mapeamento da variação genética da espécie ao longo de toda a sua distribuição geográfica, que é ampla. "O que pouca gente sabe é que quase toda a produção de castanha exportada pelo Brasil tem origem em florestas naturais. O processamento da castanha do Pará - ou do Brasil, como é conhecida fora daqui - é fonte de renda familiar para agroextrativistas, indígenas, além de sua importância para o ecossistema", situa Martins. A pesquisadora conta que o conhecimento desses parâmetros genéticos, bem como da adaptação da espécie às mudanças climáticas, poderá subsidiar a definição de áreas prioritárias para a conservação da espécie, de regiões prioritárias para a coleta de sementes e dos genótipos prioritários para o enriquecimento ambiental.
A produção das nozes conhecidas como castanha do Pará também está no centro de projeto internacional coordenado por Pedro Galetti, do Departamento de Genética e Evolução. Em uma reserva extrativista às margens do Rio Unini, a equipe está realizando pesquisa sobre a fauna de mamíferos em regiões de floresta com castanheiras. Um diferencial é a participação de jovens da comunidade local, que passaram por treinamento e são os responsáveis pela coleta de dados - a partir de armadilhas fotográficas, coleta de amostras para estudos com DNA ambiental e registros visuais dos animais e seus vestígios. O projeto, financiado pela agência USAID, dos Estados Unidos, tem parceria com o serviço florestal dos EUA e, no Brasil, com a Universidade de Brasília (UnB). "Não é à toa que a Humanidade comemora o Dia da Amazônia. Maior floresta tropical do Planeta, ela detém enorme riqueza de plantas e animais, bem como presta serviços que interessam a toda a Humanidade, como o de controle do clima. Muitos estudos ainda precisam ser feitos para que tenhamos protocolos e manejo, de sustentabilidade, que garantam a persistência em longo prazo dessas espécies e desses serviços no nosso planeta", conclui Galetti.