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Denise Britto - Publicado em 26-11-2025 16:00
Livro apresenta uma abordagem menstrual LGBTQIAPN+
Obra articula pesquisa de mestrado e projetos culturais (Imagem: Reprodução)
Obra articula pesquisa de mestrado e projetos culturais (Imagem: Reprodução)
Será lançado no dia 28 de novembro o livro "O CIStema do sangue: por ocupações trans e dissidentes da menstruação". O livro é resultado de um trabalho de mais de dois anos de Za Chacon Saggioro, na qual o autor reúne parte de sua pesquisa de mestrado realizada no Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGE) da UFSCar - intitulada "Bases para uma Educação Menstrual Popular e LGBTQIAPN+". A obra também registra alguns resultados de articulações em projetos culturais junto a outras pessoas trans, intersexo e dissidentes na retomada do sangue a partir da própria voz. 

"A temática central do livro é a menstruação, mas sua originalidade está na interseccionalidade do tema com discussões de gênero voltadas para a população LGBTQIAPN+, com destaque para as pessoas transgênero, identidade da qual faço parte, e intersexo. Outro grupo de pessoas que compõe essa interseccionalidade é o das pessoas com deficiência, que ao longo do meu trabalho se mostraram compor o que tenho chamado de experiências menstruais não cisheteronormativas", detalha o autor, que é psicólogo, mestre em Educação pela UFSCar, doutorando em Ciências Sociais pela Unicamp e artista circense.

Segundo Chacon, o livro foi organizado em torno de dois objetivos principais. "O primeiro tem relação com minha pesquisa de mestrado ("Bases para uma Educação Menstrual Popular e LGBTQIAPN+"), que buscou investigar e organizar quais pilares pedagógicos devem compor uma abordagem menstrual comprometida com a pluralidade dos corpos que a experienciam. Assim, parte do livro traz os resultados de uma educação menstrual voltada para a população LGBTQIAPN+".

Além disso, a obra buscou registrar, na íntegra, vivências e reivindicações menstruais advindas especialmente de pessoas trans, intersexo e com deficiência, explica o autor. "Esse registro diz respeito a entrevistas e também a materiais artísticos, como fotografias, produzidas por essas pessoas no contexto da realização de um projeto de escrita de roteiro de documentário que encabecei pela Lei Paulo Gustavo em 2024, chamado ?Corpos que Menstruam?". 

Articulação entre pesquisa e projetos culturais
O autor do livro, que também é ativista, conta que "os dois anos de mestrado foram repletos de trocas e experiências pedagógicas em que, junto a pessoas participantes e orientado pela Educação Popular, pude amadurecer e refinar as necessidades que apareciam em campo com os objetivos da pesquisa. Foi no processo de finalização da pesquisa, em 2024 - momento em que já possuía um rico material sobre menstruação e população LGBTQIAPN+ - que almejei extrapolar os limites acadêmicos e expandir a temática para uma abordagem mais artística e cultural". 

"Por ser uma pessoa transmasculina e sentir na pele a ausência total de referências produzidas por e para nós sobre a temática", relata o autor, "o mestrado me possibilitou uma experiência capaz de afunilar a urgência da discussão e comunicação da temática para população trans e intersexo, com ferramentas e propostas que permitiram com que dois projetos culturais tenham sido aprovados até agora". 

Nessa articulação entre sua pesquisa de mestrado e projetos nos quais se envolveu, a obra apresenta, entre seus encaminhamentos, a possibilidade de reeducação sobre o tema a partir de três frentes: 1) de um mapeamento teórico e histórico sobre a maneira cisheteronormativa com que nós concebemos a menstruação; 2) pelos resultados de minha pesquisa, que sugerem pilares educativos e ferramentas pedagógicas para discutirmos menstruação comprometidos com pautas LGBTQIAPN+; e 3) por experiências, vivências e produções artísticas realizadas por pessoas trans, intersexo e com deficiência que são potências para alargar nossos horizontes de compreensões sobre a temática.

Financiamento
A dissertação de mestrado foi desenvolvida de março de 2022 a junho de 2024 e contou com a orientação da professora Iraí Maria de Campos Teixeira, do Departamento Interdisciplinar de Formação Docente (DIFD) da UFSCar, e teve financiamento da Capes. 

"Os projetos culturais também contaram com apoio. O 'Corpos que Menstruam', registrado no livro, foi financiado pela lei de incentivo cultural Paulo Gustavo e o próprio livro só existe por conta da premiação a partir da lei de incentivo Aldir Blanc, que me possibilitou sua escrita e impressão", ressalta Chacon.

Lançamento
O evento de lançamento de "o CIStema do sangue: por ocupações trans e dissidentes da menstruação" acontece no Núcleo de Apoio à Pesquisa (NAP), na área Sul do Campus São Carlos, às 17 horas; é gratuito e aberto ao público.

O livro, em formato impresso, poderá ser adquirido no dia do lançamento. Após essa data será possível adquirir a obra pelo site https://ocistemadosangue.my.canva.site.

Mais informações podem ser consultadas com o autor da obra pelo e-mail zachacon.s@gmail.com.